quarta-feira, 13 de abril de 2011

SOB AS AREIAS DO DESERTO

quarta-feira, 13 de abril de 2011
O deserto guarda um mistério
um mistério antigo
escondido nas areias
velado pelo sol causticante
e pelo vazio ensurdecedor.

Cada palmo de chão desértico,
cada punhado de areia
o conhece,
resguarda e
não o revela.

Parece como um
juramento feito
diante dos séculos
incontáveis
que nos precederam.

O que sabemos do deserto
É o que ele permite
que nos seja revelado
nada além.

Ibiza

APENAS PORQUE ESTA EM SUA NATUREZA

O poço oferece a água
a todos
os transeuntes
sem a minima indagação
e sem importar-se com a sua
procedência.
Porque está em sua natureza
fazê-lo.

Os homens bebem da água
em meio a um
grande alarido
e um desatinado furor
mesmo assim não saciam a sede.

Apenas saciam por momento
o desejo de beber
apenas porque esta
em sua natureza faze-lo.

Ibiza.

CARÁTER

Os homens de uma aldeia
são diferentes dos
outros
em seus costumes, habitos
e desejos

O único ponto comum
entre eles
é haver a diferença

Todavia
nenhum homem
é diferente de
si mesmo.

Ibiza

terça-feira, 12 de abril de 2011

JAMAIS TIVE CERTEZA

terça-feira, 12 de abril de 2011
Jamais tive certeza
de ter feito a coisa certa
No momento oportuno...

Poucas foram as oportunidade
em que tive a certeza
de algo

E poucos foram
os momentos oportunos, então...

Jamais tive certezas...

Ibiza

ME DISSERAM

O vento me disse:
Sejais livre como eu...
Sou aquele que, nas auroras,
vigia teu sono e quem,
às noites, o embala...

Disse-me a água:
Sejais como eu; transparente e
límpida...
Sou aquela que, nas auroras,
guarda teu sono e,
às noites,
o abranda...

E, por fim, a noite
disse-me...
Sejais como tu mesmo o és...
Embebeda-te da água,
Torna-te cristalino,
Lança-te aos ares,
sejais livre
Como o vento...

Seja entretanto o que tu és:
Simples e falho
até onde é permitido
que os homens o sejam.

Ibiza

IREI PARA UM LUGAR

Vou transportar-me daqui
irei pra um lugar
onde não me conheçam
e pra onde eu
me esqueça...

Irei pra um lugar onde não
estarei sozinho
nem acompanhado...

Irei pra um lugar
fora do mapa...

Um lugar inventado
por aqueles que,
assim como eu,
precisavam partir...

Ibiza

MANHÃS BRANCAS

As manhãs límpidas falam de sol,
sussurram luz e brisa...
O vento suave é como uma roupa que as manhãs
vestem para que o dia
as veja assim...

Ibiza

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O QUARTO

segunda-feira, 11 de abril de 2011
No quarto
o sono se derrama
sobre o lençol bordado...
No tapete um vasilhame de cobre
cuja finalidade
alguém terá inventado
também dorme...
Quão pouca é a diferença entre nós...

Ibiza

O ALAÚDE

Um toque e já basta...
já sei de mim...
Foram noites acesas
e eu tentava descobrir o porque
das coisas...

Ibiza

terça-feira, 3 de novembro de 2009

NÃO DESEJO

terça-feira, 3 de novembro de 2009
Não desejo
Nada além de mim...

O sol causticante que varre o deserto,
a areia que se embriaga da
palidez da noite e
o vento que doura o ocaso
nada desejam,
porque eu haveria de fazê-lo.

Ibiza

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

COMO DE COSTUME

quinta-feira, 22 de outubro de 2009
sentamos, como de costume,
à beira de um poço
Sol a pino
em pleno deserto...

Tudo era diferente
O poço
a cacimba,
a pouca água
o sol, as montanhas de areia...
A pouca vegetação
Os olhares vidrados
dos camelos
A desesperança em tudo...

Estávamos em poucos
cansados e nos sentávamos
como de costume
pouca conversa
e várias perguntas,
dentre elas, uma:

Porque só o homem
age como de costume
quando tudo é diferente

IIbiza

O VELHO CASEBRE

O casebre velho
na beira da estrada
dá a impressão
de uma foto de guerra
carcomido...
surrado...
cansado...
Cansado de viver...
Simples, magro,
Esquelético...
famélico...
Soturno...
Não fosse a distância
Eu o levaria para
um almoço
em minha casa
Você me dirá: é só um casebre
Eu te direi: é só um almoço

IIbiza

MINHA POESIA

Minha poesia
nasceu de mim mesmo
Que pena
nunca fui um bom pai...
Nasceu
com métrica e rima...
Nasceu perfeita
Dirão futuramente
Que foi adotada
Pois não se parece comigo.
Nasceu livre
livre
livre como um sonho...
Levemente sonhado...
Um êxtase...
As rimas e a métrica
não tirarm
nem impuseram nada a ela
Pois é livre...
Toda poesia é livre
Rimada ou metrificada
É livre...
Eu não sou...
Assim dirão
que foi adotada
Pois não sou poeta...
Vislumbrei-a em um momento
e foi só...

IIbiza

A CHUVA NA VIDRAÇA

A chuva na vidraça
banha o rosto
do viajante solitário
que se perdeu no caminho

Haverá sempre um rosto,
haverão viajantes
e existirão solitários...

Caminhos sempre existirão
e vidraças as teremos fartamente...

Bendita chuva que nunca é igual...

IIbiza

SUSSURROS

Sussurros varam a noite
como escadas sorrateiras
que o tempo não pensou...

Um emaranhado de idéias
vem-me à mente
e penso:

Os demais pensarão como eu?...
Verão e sentirão as coisas
como as vejo eu?...

Sussurram-me sorrateiras
Escadas noturnas
De não saber quem sou.

IIbiza

O DESERTO FALA

O deserto fala
nas noites solitárias
Fala de mim....Fala de tudo...

Cada instante
Pretende dizer...
Pretende falar...
Pretende escutar...

O deserto fala
nas noites solitárias
Fala ao coração
Fala à alma...

Para os corações
e almas
sem ouvidos
o deserto fala sozinho.

IIbiza

OS MENDIGOS DE MINHA ALDEIA

Os mendigos
de minha aldeia
não pedem por comida...

Pedem por silêncio,
Por paz...

Os mendigos
de minha aldeia
não pedem por comida...

Pedem para que a solidão
do deserto
abençoe a jornada
de cada ser vivente...

Os mendigos
de minha aldeia,
não pedem nada pra si...
Pedem para todos...

IIbiza

NA MULTIDÃO, UM VULTO

Na multidão, um vulto...
dentre todos
um apenas...

Conserva-se um
em meio a tudo...

E torna-se tudo
em meio ao nada...

Na multidão, um vulto...
Um sorriso,
Uma palavra
e nada mais...

IIbiza

CORCÉIS NEGROS

Meu sonhos
são em mim
como um galope de corcéis negros
que atravessam a noite
silenciosa
seguem pela madrugada
e de desfazem
com os primeiros
raios de sol.

Toda alvorada
é repleta de corcéis
negros e indomáveis.

Já os vistes?...

Acorda pela manhã
antes do sol
e os verá...

São teus sonhos...

Este é o único momento
em que poderá
ver-se.

Galope e galope
pra que chegues
aonde tu estás.

IIbiza

ÂNFORA

Uma ânfora
carrega
apenas a quantidade
de água
que um homem bebe...

Não fora assim
ela não seria
ânfofa
seria um tonel..

E se assim fosse
os tonéis
teriam que ser
outra coisa...

Cuide de tuas
ânforas e não sonhes
com tonéis
pode ser que
neste percurso
a água se acabe.

IIbiza

PROFUNDO E VAGO

Tudo é profundo e vago...
Toda palavra é somente a lembrança do dizê-la...

E assim a poesia é somente a confissão daquele que se entregou profundamente à vida,
nem mais nem menos...

Infeliz daquele que não se entrega...
Não possuiu a vida e ela não guardará sua lembrança...

Somos restos mortais de alguém que ainda vive...
Guarda o pensamento da coisa apenas por ela existir, pois tu não és a coisa

Toda palavra é somente a lembrança do dizê-la...
E se quiseres guardar uma lembrança de mim, não me leia.
Observe os raios de sol despedindo-se comovidamente ao cair da tarde.
Isso te bastará.

IIbiza

TODAS AS COISAS

Todas as coisas
poderão ser ditas
em uma única palavra...

Todas as palavras
se resumem em uma só coisa.

Em detrimento a tudo isso,
sejas sempre tu o que tu és...

Assim ensinou-me o deserto
Assim pude crê-lo
Assim vivemos...

IIbiza

DUAS CLASSES

Existem duas classes de escritores na arte da poesia: A primeira é a dos que fazem versos e a segunda é a dos que amam intensivamente.
Existem duas classes de leitores na arte da poesia: A primeira éa dos que leem e a segunda e dos que são infinitamente amados.

IIbiza

ADMOESTAÇÃO

Note, oriente-se e concluas por ti mesmo, todavia admoesto: Toda poesia antes de pertencer a um poeta, já existia. Era uma entidade viva. Enamorou-se de um poeta e por ele foi roubada, num ato tresloucado de puro amor. Pela mais pura e ébria paixão...
E antes de que por ele fosse tocada, existia em si mesma...

IIbiza

O POETA

A poesia pertence ao poeta até o momento em que é escrita,
a partir dai ela pertence a quem lê.

IIbiza

SE TU HOUVERES DE LER-ME

E se tu houveres de ler-me
faça-o
com a mesma
intensidade com que
escrevi...

Se não fizeres assim,
a poesia te será boa ou ruim,
mas não será poesia...

Eu escrevi com a alma
não me leia
com os olhos.


IIbiza

ARTE

O certo é que toda poesia antes de pertencer a um poeta, já existia. Era uma entidade viva. Enamorou-se de um poeta e por ele foi roubada, num ato tresloucado de puro amor. Pela mais pura e ébria paixão...
E antes de que por ele fosse tocada, existia em si mesma...

IIbiza

APRENDIZADO

O entardecer me diz mais que os homens cultos!
O amanhecer me ensina mais que os doutos!
Eu aprendo a todo instante, e não sou eu quem aprende é o aprendizado em mim que se doutrina.

IIbiza

O QUE BUSCO?

Todos buscam um sinal, uma expresão, um alento...
Eu já os tenho.
Se já os tenho que busco?
O que busco está além da busca...
Eu busco o encontrar!

IIbiza

NÃO ME CONTEREI

Não me conterei até que o último grito se haja silenciado e a voz macia na noite, deslize calma e tranquila pelo colo da eternidade.
Não me conterei até que todos os momentos estejam fartos e todos os instantes repletos...
Não me conterei até que todas as frases digam uma só coisa, até que todas as coisas tenham um só sentido e até que todos os sentidos sejam uma só esperança.
Não me conterei em definitivo... não me conterei...

IIbiza